Construída em volta de um lago, Pushkar é uma cidade sagrada com uma história de origem muito maravilhosa.
Segundo um monge aleatório de credibilidade comprovada pelo meu feeling, a história de Puskar começou quando uma flor de lótus caiu das mãos de Brahma e deu origem a um lago, o que fez com que um templo fosse construído para ele. Mas a história não acaba aí, importância real mesmo se vem de que esse foi o único templo criado após a maldição de sua esposa, Savitri, que o amaldiçoou porque ele se casou com Gayatri enquanto ela estava ausente, para realizar um ritual yajna, ritual de oferendas hindú para purificação, bênçãos divinas e bem-estar.
Aparentemente Savitri considerou isso uma pequena traição aos votos matrimoniais e ficou um pouquinho brava, amaldiçoando Brahma para que ele nunca fosse adorado. Achei pouco.
De qualquer forma, Gayatri conseguiu tirar uma parte da maldição ao conseguir que um templo fosse criado para ele, o templo de Pushkar.

E como a vida segue a arte, nós podemos ver culturas e hábitos se moldando em volta dessas crenças.
Todos os dias, naquele momento em que o sol começa a se pôr, o céu fica da cor de uma lótus que reflete no lago e faz a cidade ficar da cor da tranquilidade, você pode ouvir batuques e mantras sendo entoados em uníssono por toda a cidade. Em volta do lago, vai encontrar diversos grupos que se reúnem para tocar instrumentos e cantar mantras, elevando ainda mais a aura sagrada da cidade.
Ainda com o objetivo de elevar a alma daqueles que visitam essa cidade especial, algumas leis são estabelecidas, é proibido o consumo de qualquer animal, ou qualquer item derivado de animal. Uma cidade vegana por lei. Não há um estabelecimento se quer, que venda nada que contenha carne, ovo, leite, queijo ou qualquer coisa não vegana. Então, apesar de, durante essa época da minha vida, eu ser vegetariana, você pode imaginar o meu ânimo quando alguém me chamou pra comer uma pizza, eu ri com o desperdício da existência dessa opção, mas fui para poder ter munições para futuras piadas. Pedi uma pizza (faço a menor ideia do que) para poder zoar meu amigo que me convidou, comi com a descrença de quem ainda não aprendeu: um país que tem uma cultura vegana a milhões de anos, e que é conhecido pelas melhores especiarias do mundo, não ia decepcionar. Mas decepcionou, não tenho piadas para contar sobre a pizza, ela era maravilhosa.
Minha passagem por Pushkar foi cheia de contrastes,
Começando pelo início do meu relacionamento abusivo com macacos.
Veja bem, uma das coisas que eu mais amo na Ásia são os rooftops, então não é surpresa, que eu gostava de começar o meu dia, comendo um café da manhã no rooftop enquanto escrevia em meu diário e via a cidade nascer. E foi assim que eu comecei o meu primeiro dia em Pushkar, e em um momento eu me recostei na cadeira para admirar a paisagem, me conectar com o meu presente, com o lugar, com o estado de espírito.
Eu estou na Índia, em Pushkar, tomando café em um rooftop em uma cidade sagrada, eu me sinto abençoada, privilegiada, ameaçada? Porque raios o moço que trabalha aqui está gritando comigo e vindo correndo na minha direção com um pedaço de pau?
Merda, ele jogou o pau em mim! Errou! Aaah, ele não errou não! Tem um macaco enorme vindo me atacar, ele jogou o pau nele! Acertou? aaaaaaaaa filha da puta, o moço foi me defender e armou meu inimigo! o Macaco roubou o pedaço de pau, e o miserável jogou o pau em mim! AAAAAAA porca miséria, ele tá roubando meu café da manhã!!! Meu pãozinho seu filha da puta!!!! Devolve minha comida!!!
Construíram uma cidade em nome de um adúltero, só podia dar nisso. Perdi meu café da manhã. Contraste 1.
Estupefada, atônita e com fome, fui passear na cidade.

A cidade faz jus à lenda: Antiga e sagrada. Andar pelas ruas da cidade é como uma viagem no tempo para uma época onde o mundo era mais simples, mais selvagem, mais verdadeiro. Loja de especiarias e de espadas, loja de tecidos e escudos, loja de Japamalas (cordão de contas para bênçãos budistas) e de armas. Uma vaca de 5 patas.
Uma vaca de 5 patas. Contraste 2.

Mas apesar do mercado maravilhosamente exótico, ele não é a melhor parte da cidade. Após passar o dia passeando pela cidade e visitando os templos, inclusive o de Brahma, eu cheguei no lago, onde diversos monges se reuniam. Um deles sorriu pra mim e me pediu pra sentar. Juntou minhas mãos e me perguntou sobre o que eu dava valor e o que era importante pra mim. Eu sou mochileira, não tenho bens, não tenho pessoas fixas na minha vida, a única coisa de valor que eu tenho é minha família.
Perguntou os nomes e o que significavam pra mim. Me mandou responder em silêncio, fechar os olhos e pensar neles com amor. Começou a cantar um mantra, e eventualmente começou a me pedir os nomes. A cada nome falado, ervas eram jogadas no rio e mantras eram cantados. Por fim me perguntou meu nome, lhe dei. Ele cantou meu nome enquanto passava algo em minha testa e terminava a canção com o último punhado de ervas. Olhou no fundo dos meus olhos, e me pediu dinheiro. Eu espero que tenha pago o suficiente pra que a benção não tenha virado maldição. Contraste 3.

Durante minha estadia em Pushkar teve um festival Hindu, acho que foi um festival para todos os deuses hindus, pois havia diversos carros alegóricos com deuses diferentes, mas posso estar errada. Quebrando o silêncio e a aura de paz e tranquilidade da cidade, o festival traz energia, dança, música e vai passando por toda a cidade colorindo as ruas já coloridas. Enchendo de som e música a cidade durante todo o dia…. durante toda a noite! Contraste 4.
Mas longe de minha pessoa negar uma festa, coloquei de lado a Ive introspectiva, e acionei a Ive festeira, bora se arrumar pra curtir o festival durante à noite.

Contraste 5.
O gerente do hotel bateu na porta do quarto.
Sem jeito olha pra mim e faz que não. Em um inglês quebrado que acha melhor eu não sair. Eu não entendi, outros turistas estavam indo. Ele olha pra mim sem jeito e diz. Woman no. Mulher não. O queee? É proibido? Não. Não é proibido. Mas não é seguro.
Estupro. Muito estupro de turista. Contraste 6. Lição sobre a Índia.
Apesar de ser um país lindo. É um país onde a mulher não tem muitos direitos. Não que seja diferente em outros lugares, mas ali ninguém finge que não é.

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