Minha viagem pro Deserto do Saara, Merzouga, Marrocos

Um tour pelo deserto do Saara. Eu acho que esse item esta na lista de todos os seres humanos desse universo. Mas eu, viajante pobre, estava sofrendo e contando as moedas pra ver se conseguia pagar, eu sabia que existia uma opção mais “barata”, 40 euros, mas isso era para chegar num dia e ir embora no outro, e bicho, 40 euros em 2 dias, é um valor bem alto no meu timído budget de viajante.

Então fui eu conversar com a Morocco Desert Trips, e em troca de alguns serviços de marketing da Artwork Criação, eles ofereceriam o passeio do deserto, comida, água e estadia.

No dia combinado peguei um busão noturno, economizando assim uma hospedagem 😎,  e fui pra Merzouga, assim que sai do busão fui super bem recebida pelo grupo da empresa, que me levaram pra um rihad aonde tomei um delicioso café da manhã e fiquei descansando até a hora do passeio.

Às 17 horas da tarde, já que seria insensato andar pelo deserto com o sol forte na cabeça de delicados turistas, nosso grupo de 7 pessoas se ajuntou para subir nos camelos, e eu escolhi o mais daora, claro, o Jimmi Hendrix, o primeiro da fila.

As recomendações eram simples e fáceis de ser seguidas por qualquer acéfalo. Segurar na cela sempre que for subir ou descer do camelo e segurar na cela em toda descida mais acentuada. Também foi advertido que poderia doer o bumbum depois de um tempo, mas essa parte eu ignorei, benhê, todo feriado ia pra fazendo de vovô andar à cavalo, to acostumada, mando muito bem nessa bagaça.

Depois de uns 15 minutos, Jimmi Hendrix se transformou em Satan Hendrix. Mano, vc sabia que vc pode ter cãimbra na bunda? Eu também não sei, mas tava tão desconfortável que poderia muito bem ter sido isso, sacoméné, rainha do drama!

Mas mesmo com aquele desconforto no bumbum (isso é muito estranho de se ler), eu ainda estava toda boba olhando o deserto, como é bonito, como é cheio de areia, que lindo essa areias no chão, essas areia voando, essa areias… nos meus zóios! Eu toda boba tirando selfie, não percebi que estava chegando o que eles chamam de tempestade de areia, ai eu fiquei com areia nos ouvido, na boca, nos zóio, p***, areia por todo os meus orificios! E 1 minuto depois, adivinha? Céu azulzinho! Uma petulância sem tamanho!

Mas que seja, não faço a menor idéia de quanto tempo andamos mas nós chegamos no nosso destino, e eu, claro, quis tirar uma foto do lugar. Veja bem, a gente chegou, a gente tem que descer do camelo certo? Esse não é um raciocinio muito dificil é?

Qualquer ser humano com um mínimo de cérebro faria essa conexão cerebral. E vc lembra das instruções? As super complexas instruções do que se deve fazer ao descer ou subir no camelo? E, mesmo sendo supeeeer complexas, o guia estava repetindo elas novamente em caso de seres humanos acéfalos estarem presentes. Eu claro, ser humano focado em não prestar atenção na vida, adivinha o que fiz?? Nao prestei atenção, e enquanto o camelo ia deitar, eu estava lá, tirando fotos.

O guia desesperado veio correndo até mim enquanto gritava, segura! Segura! Mas ai já era tarde de mais, eu estava a meio caminho da minha cambalhota frontal, mais bonito que falar capote de cara, quando o abençoado chegou e conseguiu me segurar já no meio do caminho.
Ele todo preocupada: Você esta bem?
Eu: Ops, esqueci de segurar
Ele: Percebi!!!

O nosso destino era umas tendas no meio do deserto, então assim que terminei de me instalar, fui comer, porque comer é vida. A janta foi tipo um cuzcuz divino que você come com as mãos. Sim, sim, vc pode pedir talheres, mas minha gente bonita, você está no Deserto do Saara, vamos fazer as coisas a lá Deserto do Saara.

Depois da janta, a galera se junta, e ao som de uma batucada daora todo mundo começa a dançar, e quando a música acaba, todo mundo vai pra uma caminhada noturna com o negócio de esquiar na areia e pra deitar e olhar as estrelas.

Meu compadre, o céu no deserto é a coisa mais linda desse mundo! Sério, A COISA MAIS LINDA DESSE MUNDO! E enquanto a gente estava lá deitado observando as estrelas, o nossoa amigo guia, trouxe a abençoada, sim, a abençoada, linda, sexy e gelada cerveja, e ali ficamos, a admirar o céu e beber. Gente, ta ligado quando você bebe demais e deita na cama e o quarto ta todo rodando? Agora imagina se o seu quarto fosse o céu do deserto. Mano, deitar ali na “cama” e olhar o céu era a coisa mais daora desse universo! Tipo, é muito daora!

Mas então, como eu estava la até terminar os trabalhos de marketing que trocamos, eu fiz o passeio até o deserto várias vezes, e pra contar à próxima história pra vocês eu preciso compartilhar uma das minhas referências sobre o deserto. O filme: A múmia, aonde tem uma múmia assassina e besouros que comem gente.

Uma noite, estavamos com o grupo bebendo no alto de uma duna quando eu olho pro minha perna e vejo um baita de um besouro, eu sei que ele tem fome, então eu levanto aos gritos e batento na minha perna como se fosse sair um alien de dentro de mim. Na pressa de levantar e sair dali, esqueci que estava no alto de uma duna e cai dando “cambalhotas” até o chão “pousando” como um saco de batata.

Quando eu expliquei pro pessoal o motivo de meu desespero, todo mundo começou a rir, enquanto um dos guias pegou o besouro e me explicou a coisa mais reveladora do mundo: certas coisas só acontecem nos filmes, besouro não come gente.

BESOURO. NÃO. COME. GENTE.

Eu sei que vocês estão tão chocados a respeito disso quanto eu, então vou contar a próxima história. Outro dia, quando não tinha cliente, nós fomos beber no meio do deserto, pra mudar um pouco a rotina sabe?! 😂 Eventualmente o pessoal começou a falar em bereber, a língua local, e eu, entediada, resolvi sair pra uma caminhada.

Era lua cheia e a caminhada estava uma delícia, mas eu não percebi que as minhas pegadas eram apagadas pelo vento até eu já estar longe e no meio do nada. Não demorou muito para eu perceber que eu estava perdida, então eu simplesmente sentei no alto de uma duna e fiquei a olhar a lua, enquanto esperava o pessoal me achar.

A lua estava linda, e depois de um minuto, eu comecei a chorar. Estava com saudades de casa e estava sozinha perdida no Deserto do Saara. Eu sabia que o pessoal ia me achar, eles cresceram no deserto, conhecem aquelas dunas como a palma da mão e eu não tinha ido tão longe.

Nessa época, faziam uns 3 meses que eu estava longe de casa, e até então a ficha de que eu não ia voltar ainda não tinha caído. E quando finalmente caiu, eu comecei a chorar com saudades da minha mãe, dos meus irmãos, da minha família, dos meus amigos, dos meus gatos, de todo mundo tão longe. E por um momento eu imaginei o que aconteceria se ninguém me achasse.

Eu ia morrer ali. E ai? Quanto tempo ia demorar até a minha mãe ficar sabendo? E como vão fazer se não acharem meu corpo? E se acharem? A minha mãe vai ter que vir até aqui? Ou vai ter que esperar que mandem meu corpo pra lá?

Eu tinha absoluta certeza que nada disso ia acontecer, mas sacomé, tristeza e solidão trazem uns pensamentos sombrios. E eu imaginei como seria pra minha mãe, isso iria partir o coração dela, e a idéia de partir o coração de minha mamãe partiu o meu coração.

E não era só isso, viajar da forma que eu viajo é ficar longe de todo mundo que você ama e que te ama. É não ter ninguém pra contar quando algo acontece, quer seja bom ou ruim.  Abrir mão de qualquer relacionamento significante e desapegar de tudo.

É comer bolacha de água e sal no café da manhã, e as vezes no almoço e na janta, é contar moeda pra tomar uma cerveja, viver com banheiros compartilhados e em dormitórios cheio de gente. Será que valia mesmo a pena? Ai eu decidi voltar pra casa.

Mas assim que esse pensamento surgiu, meu estomago deu um nó. Eu não queria voltar pra casa, queria continuar viajando, ver mais e mais por do sois, mais luas, mais histórias diferentes. Voltar seria abrir mão daquele friozinho no estomago maravilhoso que acontece quando você não faz ideia do que vai encontrar.

Quando eu fui embora, minha mãe não pediu pra eu ficar. Eu sei que pra ela foi muito difícil, mas ela nunca pediu pra eu voltar. Acredito que quando vc ama alguém, mas ama de verdade. vc quer que essa pessoa seja feliz, mesmo que isso signifique essa pessoa longe de vc ou fazendo algo que vc considera loucura.

Não muito tempo antes de ouvir o pessoal gritando por mim, eu encontrei a minha paz de que eu realmente estava feliz em continuar viajando, e o pessoal me encontrou com um sorriso bobo no rosto daqueles de quem acaba de perceber que esta feliz com as decisões que tomou.

No dia seguinte, eu resolvi sair pra dar uma caminhada pra ver o por do sol, seguindo a linha da cidade, claro, não queria me perder de novo. E assim que o sol começou a se por eu sentei em uma duna pra assistir, e ao olhar ao redor me deparei com a lua nascendo.

De um lado eu tinha o por do sol na cidade e do outro a lua nascendo entre as dunas e palmeiras. Então sentei de lado, assim eu poderia olhar para os dois ao mesmo tempo.
Entre olhar o por do sol e o nascer da lua eu não poderia estar mais feliz, e decidi que tiha aprendido tudo que tinha pra aprender ali e estava na hora de ir para o meu próximo destino.


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12 Replies to “Minha viagem pro Deserto do Saara, Merzouga, Marrocos”

  1. Amém amada Ivinha…! Muito legal essa experiência…! Ainda bem sem machucados graves…! Que o nosso Amado Senhor Jesus Cristo te abençoe, proteja, cuide, guarde, ilumine onde quer que você esteja…!!! Beijinhos muitos…!
    Com o Amor do Senhor Jesus Cristo: Tia Ilce

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